quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Quem tem medo de Beth Ditto?



beth ditto obvious.jpgConheci as meninas (e menino) do Gossip na época do lançamento do terceiro disco da banda, Movement, quando a Beth Ditto ainda não era gordinha (e sim umagarota de estatura normal levemente fora do peso) e a banda era uma ilustre desconhecida fora do mundinho indie.
O disco, apesar das melodias cruas e de uma certa rispidez herdada do punk setentista, já mostrava alguma lapidação nas guitarras em relação aos dois discos anteriores. Canções como "No, No, No" e "Don't Make Waves" não chegavam a ser hits radiofônicos mas quase faziam dançar e eram uma espécie de prenúncio ao que viria a acontecer alguns anos depois.
Naquela época, quando "Movement" foi lançado (meados de 2003) nunca poderia imaginar que a banda iria estar ocupando o pódio da fama onde estão agora, tocando para milhões de pessoas e esgotando casas de espetáculos gigantescas.
Esta fama toda foi desencadeada lá em 2006, quando o hit arrasa quarteirão "standing in the way of control" (ainda hoje o carro-chefe da banda) chegou às radios e as apresentações ao vivo da banda - puxada pela sua imensa (sem trocadilhos)front woman Beth Ditto - caíram no boca-a-boca da internet.
The Gossip - Standing In The Way Of Control.jpg
Standing In The Way Of Control, o disco, era um colosso irretocável do início ao fim que fazia um casamento feliz entre punk, disco sound e letras black dos anos 70. Era impossível resistir àquele Riot Girrrl com alma soul embalado pela grande voz de diva negra de Beth Ditto.
O problema de "Standing In The Way Of Control" é que ele era bom demais para uma banda que tava no início de carreira e a fasquia para o seu sucessor ficou muito alta.
O resultado, quase três anos depois, não podia ser outra coisa que não o insípidoMusic For Men de 2009. É o chamado "disco adulto" da banda. Onde eles dizem que "amadureceram" e querem dar "um novo rumo" ao som da banda.
Muito bem produzido e propositadamente mais acessível e mais pop que o anterior, "Music For Men" apesar de não chegar a ser um péssimo disco, deixava um gostinho amargo de decepção na boca. As guitarras orelhudas e o caos organizado de antes se foram embora, e a voz poderosa de Ditto soava limpinha e ultraproduzida. O disco foi obviamente um sucesso nas rádios e fez a festa do grande público, que estava descobrindo a banda naquele momento. Porém, nas apresentações ao vivo da banda, parecia que a "magia" tinha acabado.
band-gossip-beth-ditto-brace-paine-hannah-billie.jpg
Este texto saudosista que parece de alguém que prefere a música "do passado" é, na verdade, mais um lamento sobre o estado da música indie atual. O rumo que o Gossip deu ao seu som e à sua carreira nos últimos anos é, com efeito, uma espécie de nova regra do cenário musical atual. Manter-se fiel às origens e, mesmo assim, reinventar-se a cada disco, virou uma tarefa hercúlea e arriscada. Especialmente para as bandas com pouco tempo de estrada. E elas são as menos culpadas disso tudo, pois apenas dançam conforme a música.
Não quero parecer ingênuo e sei que as bandas não sobrevivem mais com as vendas de discos. Nos últimos anos, pequenos selos independentes abriram e fecharam em questão de meses (o caso recente da Roadrunner - que em Abril despediu milhares de pessoas, fechou escritórios em vários países da Europa e está sob o controle tirânico da Warner - é um exemplo disso) e, segundo o site da BBC, em 2011 a venda de discos caiu mais 6% em relação aos últimos anos, causando uma espécie de efeito dominó, que iniciou lá no começo da década passada. Mas isto é uma outra conversa.
gossip 2012.jpgGossip versão 2012 ultraproduzidos
A disseminação dos blogues e imprensa musical vampiresca, sempre em busca da "next big thing", também têm uma grande parcela de culpa nesse imbróglio todo.
As bandas iniciantes já não têm tempo de trabalhar e "amadurecer" o seu som e, com isso, encontrar o seu nicho. Assim, na maioria das vezes, nunca ultrapassam o disco de estreia ou, quando fazem, se veem obrigados a mudar radicalmente a sua música.
Um exemplo recente são os britânicos The XX que, depois da aclamação unânime do seu début em 2009, escolheram não arriscar e fizeram o mesmo disco, três anos depois.
No mais recente álbum de estúdio do Gossip A Joyful Noise a banda resolveu sair do armário e assumir de vez a sua nova faceta "pop fm". As guitarras - e os antigos fãs - ficaram para trás, e agora a banda pisca o olho para um outro público. Um público maior e menos exigente, e que provavelmente nunca sequer ouviu os primeiros discos da banda. Mas que está fazendo a banda ficar muito, muito rica.
Tirado daqui ó
Beijos da Alex:)

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