quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Garota do Calhau








Quando em miúda lhe perguntaram o que queria ser, respondeu: "Do circo, hospedeira ou arquitecta." Ri: "E acho que acabei por ser as três coisas. Porque o mundo do circo é o de coisas inventadas, fora da realidade; porque ando sempre no ar (em duas semanas fiz 19 aeroportos); porque design e arquitectura estão muito próximos."
Filha de professores, a mais nova de três irmãos é de miúda uma voluntarista. Ao ponto de ter imposto à família a substituição do seu nome, Isabel Maria, por Nini. "Era uma palavra que eu repetia a toda a hora, e tiveram que me chamar assim. Mesmo na escola, só me chamavam Isabel no primeiro dia, depois mudavam porque se me chamam Isabel nem olho, não me lembro." A determinação ressoa na escolha do curso: "Quando acabei o sétimo ano, a minha mãe chamou-me e perguntou o que queria ser e que pensasse bem porque ia ser para a vida inteira, e eu disse designer, que era uma coisa de que na altura em Portugal praticamente não se ouvia falar."
Os pais apoiaram a opção apesar de lhe chamarem a atenção para o risco, e Nini partiu da Madeira para Lisboa, para estudar no IADE . Findo o curso, estagiou em Nova Iorque. O namoro com um sul-africano arquitecto de interiores levou-a para a África do Sul, onde tencionava viver e onde tirou um curso de pintura. Não se adaptou e voltou para Portugal, com passagem pela Dinamarca, onde aprendeu a trabalhar com plantas. Em parceria com o namorado sul-africano e com mais dois sócios, abre o seu primeiro atelier, o Esboço Interiores, no Funchal. Actualmente a designer de 47 anos está a trabalhar num projecto de design hotel na Avenida da Liberdade, outro em Cabo Verde, outro na Colômbia, mais três no Norte e dois no Algarve. Pouco disso a que se chama "tempo livre": "Quando tenho algum, pinto."
Foi na pintura que começou o nome "garota do calhau", entretanto transformado em marca e que vai ser também a denominação da fundação de benemerência que planeia para 2010. "Quando era pequena, havia no Funchal uns miúdos que iam para o cais fazer tropelias e mandavam-lhes moedas dos grandes paquetes que chegavam. Agora já ninguém sabe o que isso é porque felizmente desapareceram, mas quando comecei a usar o nome as minhas amigas disseram, 'Nini, que horror'. Agora as revistas estrangeiras usam-no para falar de mim como se fosse o equivalente à Garota de Ipanema." Mas os calhaus não são só uma palavra que transporta um mundo, são também matéria sempre presente: "Todos os meus trabalhos têm pedras e riscas nos tapetes. Todos."

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Beijos da Alex:)

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