Make Bafônica: Paris em Tóquio

Sabor francês: as delícias da Petite France de Tóquio

Comment ça va, magret de canard, macaron... No bairro toquiota de Kagurazaka, o sotaque é francês. Apesar de manter a atmosfera tradicional do Japão - com casas de gueixas, templos, ruelas do antigo Edo, lojinhas típicas de artesanato local e casas de chá -, o bairro foi invadido pelos franceses. Andar por Kagurazaka é como viajar para Paris de uma outra dimensão. Não é difícil imaginar a Amélie Poulain de quimono caminhando pela Kagurazaka-Dori, a principal rua do bairro.

E o melhor: o sabor francês está por toda a parte. E sem exageros: tão bom quanto em Paris. São inúmeras as boas opções de restaurantes, confeitarias, bares de vinho, boulangeries e bistrôs, que vivem cheios. Sem reserva, é praticamente impossível conseguir uma mesa. O segredo do sucesso dos "bistrozinhos" do bairro é o tempero, feito da obsessão pela perfeição dos japoneses, com a inspiração e, em muitos casos, a direção de legítimos franceses. No Japão, não basta ser bom, tem que ser o melhor e a freguesia é exigente, conhece o sabor original, já que é formada - em grande parte - por expatriados franceses, que vivem nas imediações.

Os restaurantes são cópias fiéis dos tradicionais cafés parisienses, com direito a menu "du jour" em francês e tudo mais. Se não fossem os garçons e clientes de olhinhos puxados, daria para imaginar que estamos mesmo na França. É para lá que vou quando estou com vontade de trocar o sushi por um bom escargot ou Bouillabaisse.

A gastronomia é levada tão a sério por aqui que não há no mundo país que reúna tantos chefes franceses estrelados quanto o Japão. Para ser ter uma idéia, o guia Michelin de Tóquio premiou dois restaurantes franceses com três estrelas (honraria máxima concedida a um restaurante): O Quintessence e o Joël Robuchon. Observação: nenhum deles está em Kagurazaka, o que demonstra que os sabores franceses estão espalhados por toda a cidade.

Uma das dicas de Kagurazaka é o restaurante Lugdunum Bouchon Lyonnays, que tem uma estrela no Guia Michelin e provavelmente o melhor baba ao rum do mundo. Quando eu vou lá, peço de cara para reservar o meu para a sobremesa, antes que algum aventureiro o faça. O baba ao rum é tão gostoso que a gente almoça ou janta já com a mente na sobremesa, esperando o gran finale. Mas os pratos também são deliciosos e os vinhos que mais combinam com a estação - e com a comida, evidentemente - são escolhidos com cuidado.

O proprietário, o chefe Christophe Paucod é nascido na cidade de Lyon, que - como sabem os amantes da boa mesa - tem uma das melhores gastronomias do planeta. O restaurante foi construído e decorado como os bouchons, os típicos restaurantes de Lyon, especializados em pratos que - comparados com a nouvelle cuisine - podem ser considerados pesados e gordurosos, como patê de pato, salsichas e porco assado. Por isso mesmo, são deliciosos. Não são lugares para quem está contando calorias... Ah! Lugdunum era o nome da cidade de Lyon na época do Império Romano.